
A família Diniz voltou ao centro dos holofotes na administração do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Mas, desta vez, não se trata da tradicional clã de Abílio Diniz (falecido em 2024), que marcou época no comando da companhia. Uma nova geração, do interior de Minas Gerais, vem discretamente ganhando espaço no topo da governança da empresa. São os Coelho Diniz, de Governador Valadares, que já se tornaram o segundo maior grupo acionista do GPA, com cerca de 18% das ações ordinárias.
A revelação foi feita pelo canal InvestNews BR, em vídeo publicado nesta segunda-feira, 4 de agosto, com a chamada: "Outra família Diniz tem ganhado poder na administração do Grupo Pão de Açúcar". No programa, é traçado o perfil da família mineira que começou com um único supermercado e hoje se posiciona estrategicamente em meio à crise do grupo francês Casino, controlador tradicional da rede.

A trajetória dos Coelho Diniz é marcada, segundo o vídeo, pela solidez e discrição. Fundada em 1992 por Ercílio Coelho Diniz e seus filhos, a rede de supermercados nasceu em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, e cresceu ao ponto de somar 22 lojas em sete municípios, com um centro de distribuição próprio e um faturamento estimado entre R$ 2,5 e R$ 3 bilhões por ano. A operação mescla unidades populares e lojas gourmetizadas, com adegas, áreas de sushi e padarias.
Discretos e pragmáticos, os empresários mineiros têm preferido atuar nos bastidores, sem exposição pública ou declarações de impacto. Sua atuação tem sido marcada por cautela e consistência, características que, segundo analistas ouvidos pelo canal, remetem ao estilo tradicional de muitos empresários do interior do Brasil: trabalho duro, baixo perfil e visão de longo prazo.
O vídeo do InvestNews destaca que a atuação dos Coelho Diniz combina experiência no varejo com gestão de capital de forma conservadora, o que pode ser positivo para o GPA, que ainda enfrenta desafios operacionais. Apesar de leve recuperação nas vendas (alta de 6,5% nas lojas Pão de Açúcar e 7,3% no grupo como um todo no primeiro trimestre), o grupo luta contra alta alavancagem e baixa geração de caixa, segundo relatórios de bancos.
Além da força no setor varejista, os Diniz de Minas tem fortes ramificações políticas. Ercílio Araújo Coelho Diniz Filho é deputado federal pelo MDB mineiro e Alex Diniz, seu irmão, é suplente do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG). Dentre os nomes que figuram entre os investidores do GPA estão ainda Fábio, Henrique Muford e Elton Coelho Diniz.
A ascensão da "nova família Diniz" se dá em meio à crise enfrentada pelo grupo francês Casino, que ainda detém o controle do GPA, mas vive um processo de reestruturação e enfraquecimento. Essa instabilidade abriu uma janela de oportunidade para que os mineiros ampliassem sua participação acionária e se posicionassem de forma mais estratégica na estrutura de governança.
O momento atual do GPA, marcado por mudanças internas e fragilidade do grupo controlador, tem permitido que acionistas minoritários ganhem protagonismo. Com 18% das ações ordinárias em mãos, os Coelho Diniz passam a ter peso considerável em decisões estratégicas, podendo influenciar os rumos da companhia nos próximos anos.
Com a saída do empresário Nelson Tanuri, que tentou articular mudanças no conselho e desistiu após perder apoio, os Coelho Diniz compraram parte de suas ações e ampliaram o domínio. Hoje, ao lado de Ronaldo Iabrudi (12%) e da americana Nuvim Capital (8%), compõem o núcleo mais relevante da estrutura societária da companhia, ao lado de um Casino cada vez mais reticente em permanecer no Brasil.

O vídeo do InvestNews destaca também que essa movimentação pode representar uma virada na história recente do GPA. A família mineira, ainda pouco conhecida fora de Minas Gerais, tem se mostrado uma força silenciosa, capaz de mudar o equilíbrio de poder dentro do grupo. O canal destaca ainda que há expectativa de que os Coelho Diniz ampliem sua atuação e fortaleçam alianças internas.
O paralelo com a família de Abílio Diniz é inevitável. Ambos os clãs compartilham o sobrenome e a tradição no setor supermercadista, mas trilharam caminhos muito distintos. Enquanto Abílio ganhou projeção nacional e até internacional com seu estilo arrojado e carismático, os Coelho Diniz preferem o anonimato e a construção gradual de poder.

A principal dúvida que paira sobre o mercado é: os Coelho Diniz querem assumir o controle do GPA? Embora o Casino queira sair, não pretende vender a qualquer preço. O GPA, que já valeu R$ 7 bilhões, hoje tem valor de mercado abaixo de R$ 2 bilhões. O dilema persiste: os franceses não vendem barato, e o preço não sobe justamente porque eles ainda estão no negócio.
Mesmo assim, os bastidores indicam movimentações intensas. Com perfil reservado e espírito estratégico, os mineiros têm avançado com cautela, sem pressa, mas com firmeza. O estilo é claro: gestão silenciosa, mas com apetite de gigante. A dúvida não é mais se os Coelho Diniz são relevantes, mas quando e como vão influenciar os rumos do GPA.
A história está longe de acabar. Mas já é possível afirmar que, em meio à crise e à reconfiguração do comando, o varejo nacional assiste à ascensão de um novo protagonista - com sotaque mineiro e raízes no interior.